skill vs. sorte
Das
diversas discussões ocorrentes nos encontros de Magic, uma das mais
acaloradas é a que diz respeito a sorte no jogo. Não é preciso
muita experiência para ter presenciado uma partida onde um top draw
acabou com o jogo, ou poderia ter acabado, e não o fez, ou que tenha
acontecido a tão temida zica. Geralmente essas situações são
seguidas de comentários, sérios ou não, como “Magic é pura
sorte...” Por outro lado, a presença dos mesmos rostos nos top 8
de grandes torneios não deixa dúvidas de que o Magic é um jogo de
habilidade, e o atual metagame de todos os formatos só reafirma a
importância das escolhas quem está por trás das cartas, antes e
durante as partidas. Então, o que dizer sobre a sorte diante desse
cenário?
A
princípio, é importante ter em mente de que o Magic é um jogo onde
a aleatoriedade é um fator importante. E há, nas regras, inúmeras
mecânicas que garantem essa importância (limitação do número de
cópias de uma carta no deck, o embaralhamento, o acesso limitado as
cartas do deck, etc). Um bom jogador deve saber lidar com a
aleatoriedade, e entender como ela interage com sua estratégia. Isso
não quer dizer que se deva ceder à sorte. Muito pelo contrário,
deve-se pensar em maneiras de minimizar a sorte, para fins de atingir
a win condition da maneira mais rápida (no caso de aggro ou combo),
ou para conseguir o controle da mesa. O quanto você dependerá da
sorte para vencer uma partida é uma escolha feita por você na
construção do deck, e escolhas remetem a habilidade.
Seguindo
a linha de raciocínio na qual o fator sorte deve ser minimizado,
conseguindo assim ter controle sobre sua estratégia, todos os decks,
hipoteticamente, deveriam jogar com cartas de compra e de busca, e
não é isso que acontece. Há decks fortes que não necessitam (ou
necessitam pouco) de tais recursos para funcionar bem, como o White
Winnie atualmente no Extended ou o clássico Mono Red, entre tantos
outros. No entanto, tais decks dependem de uma mão inicial que
garante boa parte da vitória, afinal, você contará normalmente com
apenas um draw por turno. Isso quebra a teoria de que Magic é skill,
e não sorte para ter as cartas certas na hora certa? A resposta é
não, e não há contradição nenhuma aqui. Mais uma vez trata-se de
uma escolha, ou seja, habilidade. As win conditions desses decks são
sacrificadas pela presença de cartas que arrastam o jogo. Não há
tempo para draws adicionais. Saber lidar com esse tipo de estratégia
levando em conta a aleatoriedade é habilidade.
E
quanto aos decks fast combo? Existem combinações de cartas que
ganham o jogo no primeiro turno se houver uma mão perfeita, ou seja,
se houver sorte. Não há sequer interação com o oponente em alguns
casos. Podemos citar como exemplo o WW Quest, cuja combinação ganha
de qualquer deck do formato Standard no segundo turno em muitos
casos. Com muita sorte pode-se ganhar no primeiro turno. Porém, no
caso de um mid game as chances de vitória caem drasticamente, e
continuam caindo a turno após turno. Para chegarmos a uma conclusão
sobre o custo benefício da dependência da sorte, basta observar os
resultados obtidos por esse tipo de deck em torneios. Fast combos
quase sempre tropeçam no meio do caminho rumo a uma boa colocação.
Por isso é importante a presença de cartas que garantam o combo ou
concedam uma plano B caso o combo rápido falhe. Esses são recursos
que fazem o deck depender menos da mão perfeita para ganhar, e que
fornecem mais opções de jogo durante a partida. Mais uma vez, a
melhor escolha é minimizar a dependência da sorte, favorecendo a
habilidade.
Existem
várias outras situações interessantes onde se pode discutir sobre
a sorte no Magic. O fato é que ela sempre estará presente em maior
ou menor grau. O grande erro é achar que habilidade é pouco
significante perante as probabilidades. Quando na verdade a
capacidade de manipular a sorte é uma das maiores skills de um
jogador.
Comentem,
concorderm ou discordem, e falem sobre situações interessantes a
respeito do assunto!
Por: Francisco Ferreira [Chico]