quarta-feira, 12 de junho de 2013

Diário de um mau perdedor...

Rafael Rato



Parte 1 – A descoberta:

“Você está chateada comigo, Marge?”

Sintomas:

Sabe aquele momento em que você está muligando pra 6 pela 10º vez no mesmo campeonato, e vê seu oponente curvar do turno 1 ao 5 todos os cards que respondiam exatamente cada uma de suas jogadas???
E então você amaldiçoa até a 49º geração de seu oponente... Xinga Deus-Alá-Buda e o mundo todo.. Faz uma encenação digna de um Oscar a cada draw infeliz de sua parte e a cada mágica jogada pelo oponente... E ainda finaliza soltando o célebre “çóh çórti eçi tao di médik!”?

Mas o seu oponente, calmamente, não reage, dá um sorriso meio sem graça, e estende a mão desejando boa sorte no campeonato (única e exclusivamente pelo fato de você ainda poder ajudá-lo nos standings).

Talvez você não perceba mas, tenho uma notícia para você, amigo: Você é chato pra caramba!

Posologia:

Se você se encaixou, mesmo que da maneira mais remota, nessa descrição, procure um amigo de confiança (que jogue Magic, não adiante perguntar isso para o seu brother da faculdade) e o questione sobre o assunto, mostrando esse texto.

Ele até poderá rir um pouco da situação, mas como um bom amigo meterá o dedo na ferida e emendará um sonoro “sua cara isso”...


Parte 2 – A negação:

“Você de novo com esse papo de que eu sou estourado?”
Situação:

Após ouvir o diagnóstico você diz coisas do tipo

- “Mas não é mimimi, eu realmente to zicado, tenho que me benzer!”
- “Comprei 10 lands o jogo todo... Eu só uso 20...”
- “O meu oponente que é muito cagão... Deve ter ido se limpar no banheiro depois da partida...”
- “Ele usa apenas uma cópia daquela carta-que-ferra-o-meu-jogo e comprou-a justamente quando eu o mataria na volta...”

Má notícia para você: Você está procurando chifre na cabeça de cavalo.

Posologia:

Magic é um jogo que tem a sorte com um fator determinante. Mas o bom jogador tenta chegar ao ponto que a sorte é apenas um detalhe. Lembre-se por quantas vezes você também obteve vitórias que julgou como sendo épicas, mas foi tudo por conta de uma God hand ou de um top deck milagroso.

A sorte afeta os dois lados, tanto você quanto aquele carinha sentado do outro lado da mesa que não é um cone pronto para entregar o jogo para você. Talvez ele também seja talentoso e talvez melhor jogador do que você, talvez ele tenha treinado mais do que você, ou simplesmente teve mais foco do que você enquanto você se preocupava com o azar em seus draws.

Parte 3 – A aceitação
“Pessoal... Pq não me avisaram antes??? Desculpa aí...”

Sintomas:

Pois é, amigo. Você aí sequer suspeitando desse seu “probleminha”.

Mas os sintomas sempre estiveram aí. Naquele momento em que você perdeu para um oponente, e em seguida ele dropa após perder mais uma, sem se importar se vai atrapalhar seus stands (e até rola uma risada maléfica por parte dele, nessa hora). Quando no intervalo das partidas, nenhum dos seus oponentes quer saber como você está no campeonato. Quando um oponente que você já se enfrentou em outro campeonato, lembra-se de você ao sentar-se na mesa á sua frente (e não é por conta de sua performance como pró-player).

Poderia enumerar vários indícios, mas geralmente mostra a atitude meramente formal como seus oponentes te tratam em campeonatos. Muitas vezes até os mais chegados, até torcem contra você “de brincadeira”, porém com o mais puro fundo de verdade.

Posologia:

Você realmente tem um problema comportamental. Assuma isso.

“Ah! Eu acho que você está exagerando, Rafael...”

“Não... Jogar com você é mais chato do que ver um mirror de Eggs no modern...”

 Aceite que você é um paciente em tratamento. E como tal deve ter controle sobre a situação com a ajuda do tratamento adequado. E como seria esse tratamento?

É o que veremos na nossa próxima parte.

Parte 4 – A resolução

“Aaaaa... huuuummmmmm... (onomatopéia de meditação mal-feita)”

Você chegou a etapa final de nossa jornada. E com isso cruzou a tênue linha entre o nervosismo e o controle.

Sem sintomas nessa etapa... Vamos direto para a posologia... Vamos tentar conforntar o seu mundo da forma que você o encarava.

- “Mas não é mimimi, eu realmente to zicado, tenho que me benzer!”

São inúmeros os argumentos que põe abaixo essa sua afirmação. Desde o fato de você não estar com um deck sinérgico o suficiente, chegando ao fato de que você tomou decisões erradas durante a partida. Mas em todas elas, o fato de você se preocupar em demasia com a sua sorte ou o seu azar, te impede de concentrar-se o suficiente para enxergar as melhores jogadas a serem realizadas.

Seria o mesmo que um jogador de futebol entrar em campo, pensando na proposta que recebeu de outro clube ou (para o azar dele, no caso) nos atrasos de salários. Quem conhece o mínimo sobre o esporte bretão sabe que isso tira o foco de qualquer jogador. Isso em um esporte coletivo. Agora imaginem o que acontece quando é um esporte que exige o máximo de apenas um indivíduo?

Lembremos também que o Magic é um jogo onde as partidas são, em sua maioria, em melhor de 3 jogos. Perder um jogo, pode lhe render logo em seguida uma virada por 2x1, que aposto lhe dará um ânimo bastante grande para o restante do campeonato. Mas para isso você deverá parar com o mimimi e focar em fazer essa virada acontecer.

- “Comprei 10 lands o jogo todo... Eu só uso 20...”

Você já parou para analisar a sua base de mana? Não adianta você xingar o seu baralho, por sempre morrer com o Hellrider FTW na mão, se você utiliza 19 lands no deck. Ou então, você jogar de monored, e querer usar 24 lands. Boa parte da eficácia do seu deck é sobre como você organiza sua base de mana e sua curva de mana. Pense nisso.

E pare de keepar mãos de um land achando que Deus-Alá-Buda tem a obrigação de fazer você tutorar lands do topo sempre que quiser (a menos que você esteja de affinity, belcher ou dredge). O mesmo vale para mãos de 6 lands e 1 mágica, e pensar que “Ah! Agora só comprarei as mágicas certas e curvarei todo o turno."

- “O meu oponente que é muito cagão... Deve ter ido se limpar no banheiro depois da partida...”

O seu oponente não é um cone. Ele treinou, ele acompanhou os principais campeonatos ao redor do mundo e estudou o ambiente. Ele provavelmente pegou uma lista tier 1 e deu a sua cara com algumas techs para o ambiente. Ele também, provavelmente dormiu bem no dia anterior, ao invés de ir naquela balada open bar, e vir jogar sobre efeitos de energéticos.

Pare de colocar a culpa de seus erros em seus oponentes. Ele teve méritos, assim como você teve deméritos. E se ele teve sorte, foi por conta de as escolhas dele terem deixado-o em uma situação que a sorte pudesse ser aproveitada da melhor forma possível.

- “Ele usa apenas uma cópia daquela carta-que-ferra-o-meu-jogo e comprou-a justamente quando eu o mataria na volta...”

Já pensou que seu oponente teve o mérito de usar aquela carta pelo meta game call? Que ele tem cantrips e draws em seu deck que maximizam a possibilidade dele comprar tal carta? E que você mesmo pode ter maximizado o efeito daquele card?

Talvez se você guardasse uma ou duas criaturas na mão, aquele bonfire milagrado não causasse tanto estrago, e você não se importaria em comprar 3 lands seguidos depois de ter a mesa resetada e sem cards na mão.

..................................

Enfim, creio que pude enfiar o meu dedo na ferida, não é mesmo? Quantas vezes você analisou essas situações da forma mais egoísta o possível? Sem atentar-se para os sinais enviados e que poderiam ter feito com que você evoluísse como jogador?

Portanto, quando uma oportunidade como essa aparecer, não reclame. Respire, mantenha a calma (mande um sonoro Chupababy) e veja no que você está errando e no que o seu oponente está acertando.

Esse diário foi escrito por um jogador que convive com esse drama por toda a sua carreira no Magic, e essa é uma forma de me redimir com todos os oponentes que já tiveram o desprazer de presenciar meus xiliques em uma mesa de campeonato.

Mas eu hei de mudar!

E esses são os primeiros passos.












4 comentários:

  1. O texto ficou muito bom, especialmente o final..gostei muito! Parabéns Rafael...
    Só acho que faltou um comentário no item "A Resolução", você poderia ter lembrado que a melhor solução para acalmar os ânimos é o carinho, amor, atenção e as palavras doces das namoradas dos jogadores após cada campeonato... =P

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  2. O problema é que tal atitude é um privilégio de quem tem namorada... E Magic não é um jogo conhecido por ser um sex apeal para os seus praticantes...

    Mas no meu caso, carinho, amor e atenção, funcionam bem depois que a raiva baixa...

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  3. O texto ficou muito bom, isso acontece direto em torneios com jogadores direto.

    Comigo aconteceu o seguinte, estava de Dredge em um LQ Legacy de minha cidade, abri 1x0 no cara INSTANT FAST. quando vc vem com a mão combada e passa a carreta por cima.

    Mas como todo deck o Dredge tbm tem seus defeitos e o game-2 e game-3, sempre conta com o pesadelo dos hategraves. O cara coloco lah uns tomodys e tals e virou a mesa 2x1 o que me matou de raiva foi o comentário dele ridículo: ""Valeu, Mas Dredge hj hein dia não ganha mais nada!"" como assim? O deck tem uma das cartas mais caras de legacy (LED) comba bonito, consistente. ok tá sumido. mas em 2011 era mámáquina! ;)

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  4. Caro amigo do Dredge... Relaxa... Isso irá acontecer... Eu aprendi que quando um jogador faz uma gracinha, ou conta vantagem antes do tempo, isso me dá uma força a mais para eu virar o jogo...

    Já aconteceu em um torneio bem grande, do jogo estar 1x1, eu no play, eu dar mulligan a 5, e o oponente dizer "pois é cara, tem dia que a gente ganha e tem dia que a gente perde"...

    Óbvio que eu virei e ganhei dele com 5 cartas msm, e ele sequer me cumprimentou ao fim do jogo...

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