quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Mais histórias de Theros

Hélio Barbosa
Queria, em primeiro lugar, agradecer a receptividade, os elogios e especialmente as críticas ao primeiro post sobre as histórias de Theros. Valeu mesmo! Normalmente não rola a segunda parte das coisas, mas desta vez vai rolar!

Li comentários na Liga Magic e no blog da Liga Arena logo depois da publicação do post (eu escrevo o rascunho antes e deixo salvo). Resolvi montar esse post com coisas que foram pedidas por leitores além de coisas que ficaram para trás. (Deixei os porquinhos pro final).

(Dessa vez não vai rolar motim panfletário para defesa de raça oprimida ou teoria da conspiração – eu acho, embora Elspeth = Zé Gotinha – E mesmo pegando no pé, vou comprar a Gift Box porque está top.)



Anax e Ciméde x Cêix e Alcione


Eu pensei trinta e vinte vezes antes de colocar os personagens da mitologia ligados com os personagens de Theros porque sei lá... Aconteceu assim. Estava eu pesquisando outra história quando bati o olho nos nomes no índice do livro, daí eu lembrei da carta. O problema é que a história da mitologia não é nem um pouco Boros, mas é melhor eu contar e vocês decidirem...

Anax e Ciméde, creio eu, é uma das únicas ou a única história de amor no Magic até então. Não sei se vocês já reparam, mas é raro acontecer uma demonstração de afeto num card e quando tem, ou é meio bizarrão que nem Soul Kiss ou não é tecnicamente afeto, como em Gwendlyn Di Corci (não é amor, é só Grixis). Bom, Anax e Ciméde é um relacionamento estável e aparentemente saudável.

Cêix era um rei da Tessália e achou que seria uma boa ideia comparar-se com Zeus. Sua esposa, Alcione, seria Hera. E os jet skis são como as motos... Zeus não gostou dessa comparação.

Coincidentemente, tudo estava andando para trás na vida de Cêix e até um irmão dele que nunca tinha morrido morreu. E a desgraça não parava. A solução era ir até o oráculo de Apolo fazer uma consulta.

Antes mesmo de Cêix partir, Alcione pressentiu o pior. Coisa séria, tensão total. Tem gente que lê isso aqui e é novo(a), mas tem uns momentos bizarros na vida em que isso acontece – Você fala com a pessoa um dia, tem uma sensação estranha de que é a última vez e a pessoa vai lá e morre ou sai da sua vida (ex. você vê a namorada(o) à distância que mora longe pela última vez antes de terminar – à distância). Você se despede da pessoa casualmente e do nada bate aquela impressão “nunca mais vou ver fulano(a) novamente”. Não deve ser nada. Mas é. Depois de um tempo você descobre que é. Recomendo? Nem a pau. Mas acontece. E foi o que aconteceu com Alcione. Só que de forma intensa.

Alcione teve uma crise e quando recobrou os sentidos Cêix já estava no mar. Deu tempo para um último aceno. Um último aceno antes do barco entrar na noite cheia de nuvens para ser atingido por um raio de Zeus. Cêix pensava em Alcione, agarrado a uma tábua que restou do barco. Ele só queria que seu corpo voltasse à praia e fosse encontrado pela amada.

Sem saber de nada, Alcione rezava pelo regresso do marido. “Foi só um pressentimento”, pensou, enquanto se arrumava, esperando pelo marido. Hera não aguentava mais ouvir as súplicas de boa viagem para alguém que já estava morto e intercedeu para que, em sonho, Morfeu visitasse Alcione assumindo a forma do cadáver de Cêix. Agora Alcione sabia que seu pesadelo era real.

Alcione entrou em desespero e foi até a praia. Ali chegando, criou asas e alcançou as docas onde se despediu do marido. Naquele local avistou o corpo do amado chegando na praia. Ela beijou o corpo morto, que também se transformou em ave por misericórdia dos deuses. Por sete dias essas aves procriam e fazem seus ninhos na praia. Os deuses deixam os mares calmos por esse período para que as aves não sejam perturbadas.

(Existe um pássaro chamado martim-pescador que, reza a lenda, é essa ave da história. E sim, o mar fica calmo por sete dias enquanto ele faz o ninho sem ser perturbado.)

Em Theros, Anax é um rei como Ceíx (o texto da carta diz que Anax e Címede são da realeza). No guia dos planeswalkers para Theros, parte 2, está escrito que Címede é uma vidente que tem um templo numa montanha afastada, onde as tempestades são particularmente severas. Além disso, Címede foi atingida por um raio não Anax (ao contrário da mitologia).

Os elementos estão presentes, o problema é a forma. Ácros, em Theros, é um reino guerreiro e na Tessália da mitologia grega reinava a paz. Embora eu esteja convencido que houve inspiração, aparentemente a carta de Magic é o oposto da mitologia...

Teoria da conspiração: A letra do primeiro nome dos personagens está trocada (Anax – Alcione; Ceix - Címede). Seria isso uma forma de Easter Egg mostrando que, embora haja inspiração, eles inverteram as coisas? Guerra x Paz, quem foi atingido pelo raio, etc.

Bem, tem um casal real com nome parecido.


Cavalo de Tróia


Curiosamente, não se sabe se o Caalo de Tróia existiu de verdade ou não. Pode até ter ocorrido mesmo uma tal guerra de Tróia com um cavalo não exatamente como se imagina – um navio (“cavalo do mar” – já que Poseidon também é deus dos cavalos), um aríete ou qualquer outra coisa que não um cavalo de madeira gigante. Mas não é essa a história legal.

Hoje em dia existem guerras motivadas, dizem, por interesses econômicos, causas inventadas ou até mesmo razões imaginadas. No tempo dos gregos existia guerra por causa de mulher. Especificamente, Helena de Tróia.

Helena de Tróia não nasceu com esse nome, nasceu Helena – e perder-se-ia entre tantas outras Helenas de Manoel Carlos se a novela tivesse sido escrita em outros tempos. Helena era Helena. E só. Um belo dia Páris, príncipe de Tróia, em viagem de negócios a Esparta, conhece Helena. Ideia! “Posso te sintonizar sozinha numa ilha, de Tróia?” (Eu sei, morrerei solteiro com tanta cantada bacana). Problema: Helena era esposa do rei de Esparta, Menelau.

Menelau chamou os brother e os gregos juntaram todo o rolê – armas, barcos, soldados, Brad Pitt e partiu - Tróia – missão – for the win. A cidade ficou cercada. O problema é que a cidade já era cercada antes, por muralhas. E ficou um mar de gente em volta do muro por 10 anos.

Aquiles não ia perder dez anos num cerco. Gravou Clube da Luta. Mas a primeira regra do Clube da Luta é não falar sobre o Clube da Luta. Tyler Durden assumiu o cerco e resolveu bolar um atentado do projeto destruição. Ele queria explodir tudo, mas como seria impossível, resolveu que ia mandar o cavalo de madeira do Jack para dentro da cidade como um presente, com cerca de quarenta soldados. Os outros soldados fingiriam que estavam partindo.Você não é o seu muro impenetrável. (Ok, não foi exatamente assim que aconteceu, mas eu gosto de pensar que foi).

Pois bem, os gregos criaram um cavalo de madeira oco, com cerca de 40 soldados; deixaram-no do lado de fora da cidade e bateram em retirada. Os troianos aceitaram o presente e, na calada da noite, o exército grego voltou e os soldados saíram do cavalo, abrindo os portões da cidade. O exército grego invadiu a cidade.

A carta Cavalo de Ácros é bem interessante, naquele estilo “raras toscas que ocupam espaço e você odiaria, se não tivessem um flavor bacana”. Você entrega o cavalo para o oponente e os oponentes controlam as fichas de soldado.

Leia-se: cada oponente coloca no campo de batalha uma ficha de soldado. Se você imaginar que a Grécia naquela época não era um país, mas um punhado de cidades-estado, uma ficha de soldado para cada oponente de Tróia dá uma penca de soldados – ou seja, uma representação fiel do Cavalo de Tróia.


Tríade dos Destinos


As Moiras eram três deusas irmãs que representavam o destino. Cloto (“fiar”) representava o nascimento, Láquesis (“sortear”) determinava o que o sujeito ganharia em vida e Átropos (“afastar”) determinava o fim da vida.

Antigamente eram representadas como mulheres feias sinistras, com dentes e unhas longas. Depois passaram a ser representadas como mulheres bonitas. Normalmente elas seguravam instrumentos que variavam mais do que tudo. Poderiam usar desde cetros e coroas, denotando soberania, até mesmo um fuso, um instrumento de corte e um pergaminho.

Se analisarmos a arte da carta Tríada dos Destinos, podemos ver que, aparentemente, cada uma das jovens segura um instrumento. É como se uma segurasse o cordão da vida, a outra segurasse a faca que corta esse cordão e a outra... Pode ser um fuso ou uma mão fechada, não sei. (Olhei artes maiores e parece que ela está com alguma coisa na mão, mas é difícil dizer o que é).

“A, tá viajando!” Pior que não. Em espanhol, o nome da carta é Les Moiras.

No aspecto funcional, a carta tem 3 habilidades e é como se a carta pudesse ser afetada por cada uma das Moiras se necessário (você pode colocar um marcador na sua criatura, blinkar e matá-la para comprar duas cartas).

É melhor assim. Se fosse uma habilidade de três etapas, que demorasse três turnos para chegar no resultado, provavelmente o pessoal ignoraria até no limitado.


As Gréias e o Olho de Bruxa


As gréias eram grupos de três irmãs (sim, os gregos tinham mania de três) bruxas que tinham o dom da
adivinhação, só que para usar esse dom, elas tinham um só olho que dividiam entre si. Em Theros, existe um artefato chamado Olho da Bruxa que lembra muito esse olho das Gréias.

Elas não são exatamente uma divindade ou ser mitológico como as Moiras, elas são na verdade um tipo de monstro. Alguns estudiosos dizem que elas são uma representação das espumas do mar, pois a lenda diz que as gréias já nascem com os cabelos brancos, como a espuma das ondas que quebram na praia.

Na mitologia grega, Perseu encontra as Gréias numa caverna, rouba o olho das bruxas e só devolve depois que elas revelam a localização dos itens necessários para derrotar a górgona Medusa.

Em Theros, o Olho da Bruxa dá vidência a quem possuí-lo, deixando você ver o futuro representado pelo topo do seu grimório. Arte cabulosa, efeito temático, tudo no flavor. Como dito anteriormente, existiam várias gréias na mitologia, por isso não é um artefato lendário nem raro.


Maldição dos Suínos


Num determinado momento da Odisséia, após os navios de Ulisses serem atacado por uma tribo de bárbaros, sobrou só um navio – o de Ulisses, que se viu forçado a fugir (“corre negada”). Foram para a ilha de Eéia.

Chegando na ilha, Ulisses sobe numa montanha e avista um palácio cercado por árvores. Ele manda metade da tripulação para averiguar. Naquele palácio mora Circe, pessoa bacana, cheia das boas intenções, cercada de feras selvagens por ela domesticadas, com direito a piscina com cascatinha e filhote de jacaré.

Ela oferece aos marinheiros um banquete, regado a muito vinho e som ao vivo. Só que ela manjava os feitiços e transformou todos os marinheiros em porcos usando sua varinha. Foram tudo para o chiqueiro. Iam tudo virar carne, não fosse Eurícolo, que chefiava os homens, ter voltado para contar tudo para Ulisses.

Quando soube da história, Ulisses foi pra lá. Tinha comida e bebida de graça! Ai Hermes apareceu e falou: “Não! Leva essa planta aqui que corta o efeito do feitiço, daí você come de graça sem dar problema...” Ulisses não tinha pensado nisso, mas pegou o barato doido e consumiu em forma de chá.

Chegando no rolê, comeu de graça, bebeu de graça e a mulher tentou transformá-lo em porco também. Só que ela não sabia que Ulisses andava com nota de cem no bolso e manjava dos paranauê. Ulisses puxou a espada e disse: “É o seguinte tia, tu vai transformar os truta em gente de novo. E tu vai trata a gente bem até a gente ir embora.”

A mulher concordou, transformou os porcos em gente de novo, explicou como escapar das sereias e tudo acabou bem.

A carta de Magic retrata essa situação em parte (obrigado, Lelo, pela dica). Em seu Tumblr, Mark Rosewater explicou que na carta não tem como destransformar o porco por questões práticas – você teria que lembrar qual ficha é qual criatura. Daí ficou parecido, mas não igual.


Conclusão


Acho que agora foi. Ainda tem material para tratar, mas ou é coisa conhecida (pégaso, basilisco, medusa, minotauro) ou é sair atrás das lendas, mas se houver interesse, ainda dá para tratar.

O que eu acho é que nas outras edições é que outras referências aparecerão – ou, melhor dizendo – talvez fique mais fácil identificar as fontes utilizadas na criação das cartas. Por exemplo – é melhor ver todos os deuses para dizer com certeza que deus é baseado em quem. Mas eu vou ficar de olho.

A parte um deve ter ficado melhor que a parte dois, afinal de contas isso aqui não é Poderoso Chefão nem nada e pode ter acabado ficando mais do mesmo, só que sem a polêmica. O texto saiu mais para incluir o que o pessoal pediu na primeira semana de feedback.

Como eu disse, ainda tem espaço para desenvolver o tema – Daxos de Meletis (é um herói soldado grego, só que qual?) e Tymaret, o Rei do Assassinato ainda estão na minha lista mental. Se alguém estiver interessado em alguma coisa específica dá para tentar escrever mais coisa. Comentem lá no blog para eu ver!

(E se você acha Poderoso Chefão 1 melhor que 2, você deve ser fã do Marlon Brando... Nesse caso, Apocalypse Now é melhor que Poderoso Chefão e Lagarto ganha de Spock :p).

Abraço e, novamente, obrigado pelo feedback!


#ElspethZehGotinha (Sim, por causa do gorrinho).




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