Olá, meu nome é Francisco
Ferreira, conhecido simplesmente como Chico. Talvez você já tenha lido algum
artigo/postagem minha sobre Magic, mas hoje vou dar início a uma série de
artigos que tratam de outro hobby que eu cultivo há alguns anos: RPG.
Antes de falar sobre a campanha Murder in Baldur’s Gate é importante situar
você a respeito dos D&D Encounters. Trata-se de um programa incentivado
pela própria Wizards of the Coast, em suas lojas “core”, onde cada semana se
joga parte de uma mini campanha, que durará cerca de 3 meses. A campanha da vez
é situada no cenário de Forgotten Realms (traduzido pela Devir como Reinos
Esquecidos), na cidade de Baldur’s Gate. As duas grandes novidades da MiBG em
relação aos encounters anteriores é que pela primeira vez o mestre pode
escolher seu sistema de regras favorito, entre as 3 últimas edições do Dungeons
& Dragons (D&D 3.X, 4ª edição ou o playtest do D&D Next), e que os
reportes enviados para a Wizards sobre essa campanha influenciarão nas mudanças
que ocorrerão no cenário de Forgotten Realms em sua nova roupagem para D&D
Next. Mais sobre D&D e Forgotten Realms pode ser encontrado aqui.
Agora sim,
vamos ao reporte. (Obs.: optei por manter alguns nomes próprios dos locais,
títulos, etc em inglês, tanto para facilitar a pesquisa em outras fontes, como pela
inconveniência em traduzi-los).
Sir Graven
da Mortalha (dragonborn, paladino nível 1):
Campeão da justiça e da bondade, cresceu como um acólito no templo onde foi
abandonado quando bebê. Veio a Baldur’s Gate atendendo a um sonho profético
enviado por sua divindade patrona, Bahamut, onde foi predito que um grande mal
estava crescendo.
Nativo das florestas, Malzafar aprendeu a caçar e a sobreviver na natureza, mas
agora se encontra em uma cidade grande, diferente de tudo que ele já viu, e
longe da companhia dos seus semelhantes.
Esse jovem e ambicioso caçador de recompensas viu em Baldur’s Gate a chance
para ganhar mais ouro na busca por alvos mais arriscados da sua lista de
procurados.
Curisco
(halfling, ladino nível 1):
Pequeno e jovial, o típico halfling aventureiro, porém com os dedos mais lépidos
do que o normal. Insiste em adquirir objetos alheios, mas não vê nenhuma
maldade nisso, ele só os guarda em seus bolsos para evitar que alguém os roube. Encontrou em Baldur’s Gate um segundo lar, uma vez que ama os ambientes
proporcionados pelas tavernas da cidade.
Esse aprendiz de ferreiro impaciente é também um combatente furioso. Devido a
sua herança híbrida seu lugar no mundo é incerto. Em uma de suas andanças
acabou em Baldur’s Gate, para o feriado do Founder’s Day, e para visitar seus
companheiros da guilda dos ferreiros dos meio-orcs.
Prólogo
Baldur’s Gate é uma grande cidade portuária, morada de dezenas de milhares de
almas. Dentre elas figuram desde alguns dos mais influentes e poderosos lordes
dos reinos até os mais pobres párias da sociedade, moradores dos guetos da Cidade
Externa.
Há muito tempo atrás Baldur’s Gate não tinha esse nome, era chamada de Gray
Harbor, e não passava de mais um vilarejo às margens do Rio Chiontar. Até que
um próspero aventureiro, Balduran, cuja terra natal era este vilarejo, investiu
parte de sua fortuna a fim de construir uma grande muralha em volta de Gray
Harbor, protegendo sua terra natal das invasões de bárbaros. Protegido, o
vilarejo pôde prosperar, se tornando a grande cidade que é hoje, e foi
renomeada homenageando o grande herói Balduran, sua muralha e seu portão.
Até hoje, séculos após a construção da muralha, comemora-se o feriado do Dia do
Fundador. Nesse dia a entrada nos muros da cidade é isenta de taxas, atraindo
muitos comerciantes e curiosos para a grande feira e para as renomadas tavernas
da Baldur’s Gate. Aqui a nossa história tem início, no feriado do Dia do
Fundador.
Começa com sangue
Os personagens desfrutavam das
várias comidas exóticas da grande feira durante o dia de feriado. Vários
patriarcas e membros do parlamento desfilavam pelo mercado exibindo suas jóias
e roupas de seda, comerciantes dos mais distantes cantos do mundo exibiam suas mercadorias
nas tendas, trombadinhas espalhavam-se a procura de desprevenidos possuidores
de bolsas de ouro. Um palanque de madeira estava montado em meio às barracas,
em torno do qual a aglomeração de pessoas aumentava enquanto Abdel Adrian, um
dos quatro duques de Baldur’s Gate, considerado por muitos o maior herói da
cidade, à sombra apenas do próprio Balduran, subiu as escadas de madeira para
discursar em honra da cidade. O caos se instaurou no momento em que um virote foi
disparado para a multidão, seguido por outros virotes e golpes de faca
desferidos contra os cidadãos de Baldur’s Gate. No palanque do discurso uma
figura sombria surgiu para enfrentar Abdel, dando início a um massacre.
Os aventureiros logo se colocaram em combate direto contra esses assassinos.
Uma luta sangrenta seguiu, com a morte do algoz de Abdel, graças à ajuda
prestada pelos heróis.
Todo sangue e vísceras, parecia não haver chances de sobrevivência para Abdel,
no entanto uma espécie de fluido vital começou a migrar para o corpo do duque a
partir do cadáver de seu inimigo, restaurando seus ferimentos e fechando sua
carne. Esse confronto poderia ter tido um final feliz para Abdel Adrian, não
fosse uma mutação que, após curá-lo, transformou-o num monstro. Este ser que fora
outrora o aclamado herói de Baldur’s Gate, passou a atacar ferozmente tudo que
estava em seu caminho. Sem escolha, os heróis abateram a criatura sanguinária,
deixando sobre o palanque um cadáver disforme fedendo a enxofre.
O atentado contra o maior nome da cidade estava envolvido por mistérios, no
momento intangíveis para os aventureiros. Mas algumas importantes
personalidades de Baldur’s Gate desejavam aproximar-se dos “Heróis do Mercado”
para tê-los como aliados. Três abordagens foram feitas enquanto os feridos eram
atendidos e os mortos recolhidos. Ulder Ravengard, recém proclamado Marechal da
companhia mercenária Flaming Fist (esse posto era de Abdel Adrian), apresentou-se
pessoalmente, convocando os heróis para uma audiência em Wyrm’s Rock, caso eles
tivessem interesse em trabalhar nas fileiras da maior força militar de Baldur’s
Gate. Imbralym Skoond, um membro do parlamento de aparência exótica,
aproximou-se dos heróis em nome de seu senhor, Duque Torlin Silvershield, um
dos quatro (agora três) grandes duques e alto sacerdote de Gond, deus da
inovação e tecnologia. Por fim um mendigo manco entrou em contato com alguns
dos heróis, dizendo na linguagem de sinais do submundo para o encontrarem no Portão
do Basilisco ao pôr do sol, e que nenhum outro além dele iria dizer a verdade
sobre o que estaria acontecendo em Baldur’s Gate. As propostas foram lançadas,
e o destino da cidade agora contaria com mais algumas mãos para moldá-lo: a dos
nossos heróis.
O Basilisco
Os aventureiros, ou Heróis
do Mercado, como muitos em Baldur’s Gate já os denominavam, se encaminharam
para o Portão do Basilisco, chamado assim pela presença das estátuas grotescas
ao seu redor. Parte do grupo se interessou pela proposta do Marechal Ravengard,
e o restante estava intrigado com o velho mendigo, portanto, até esse portão o
caminho de todos era comum.
A evacuação do mercado após o atentado ao Duque Abdel Adrian fez com que o Portão
do Basilisco ficasse apinhado de comerciantes que vivem na Cidade Externa. Soma-se
isso a procura por um escudo que fora roubado há pouco do escritório do mestre
dos portos, e o resultado não poderia ser outro senão uma fila enorme para
deixar a Cidade Baixa rumo a Cidade Externa. Seis homens dos Flaming Fists
revistavam tudo que fosse maior que uma bolsa, e taxas abusivas (abusivas
demais para um grupo de aventureiros de primeira viagem) eram cobradas por um
anão cheio de si, Nant Thangol, responsável pelo pedágio daquele portão. O
apelido do cobrador de impostos: Basilisco.
Azog, o meio-orc, desentendeu-se com os Flaming Fists ao recusar-se a pagar
para passar, alegando que se não fosse pela ajuda dele no mercado, a cidade
estaria perdida. Enquanto isso Curisco se escondeu numa caixa que já havia sido
revistada, conseguindo passar sem abrir mão um cobre sequer. Os outros pagaram
normalmente suas taxas, combinando um lugar para se encontrarem com Azog no dia
seguinte, pois este ganhara uma noite na prisão em Seatower of Balduran, por
desacato aos Flaming Fists.
Fora dos muros da cidade o grupo foi abordado por um simpático anão que se
apresenta como Mareak, que lamentou o sofrimento daquele povo, que vivia nos
guetos da Cidade Externa, e todos os dias passavam por aquela humilhação no Portão
do Basilisco. “Mesmo sem a proteção e as facilidades de viver dentro das
muralhas, as taxas e impostos caem pesadamente sobre essas pobres almas.” Disse
o anão, que também vivia na cidade externa após ter sido obrigado a abandonar
seu lar nas montanhas ao extremo norte. Ele convidou o grupo para um jantar em
sua humilde casa, convite rapidamente aceito pelo halfling Curisco. Malzafar preferiu
esperar pelo pôr do sol nas redondezas do portão, à espera do misterioso
mendigo manco, enquanto Milner e Sir Graven seguiram seu caminho ao encontro do
Marechal Ravengard, na fortaleza Wyrm’s Rock.
Encontrando Ravengard
Após uma longa caminhada através dos barracos, abatedouros, e estábulos da
enlameada cidade externa, Sir Gaven e Milner chegaram à enorme ponte chamada
Wyrm’s Crossing, cuja rocha central na qual se apóia abriga a fortaleza que
representa a inquebrável força dos Flaming Fists: Wyrm’s Rock. Bastou dizer a que
vieram, logo foram levados à sala mais alta da fortaleza, o escritório de Ulder
Ravengard, tornado Marechal da companhia há algumas horas.
Ravengard foi bem direto quanto ao seu propósito no momento. “Os Flaming Fists
são encarregados de proteger a cidade, e nosso inimigo principal não é nenhum
inimigo ancestral ou força oculta, mas sim uma organização criminosa chamada
Guilda. Eles nos cercam como um exército sitiando Baldur’s Gate, fazem vítimas
sempre onde os Flaming Fists não estão, e crescem a cada dia, empesteando nossa
política e nossos negócios.
“Abdel Adrian era o maior cidadão dessa cidade, desde Balduran. Até que um
assassino da Guilda o atacou em plena luz do dia. Vou massacrá-los por isso.”
O caçador de recompensas e o paladino aceitaram prontamente estarem a serviço
da companhia mercenária, recebendo suas insígnias e aguardando as primeiras
ordens em seus novos aposentos na fortaleza.
Encontrando o velho
mendigo
De volta à parte externa do Portão do Basilisco. Malzafar aguardou nas
redondezas enquanto Curisco voltava de bucho cheio da casa de Mareak. Alguns
instantes após anoitecer, a mesma figura que se comunicara com eles na feira
apareceu por entre as sombras, fazendo sinais para que eles o seguissem, mas
não de muito perto. O caminho se aproximava do bairro Pequena Calimshan, uma
“cidadezinha” que, apesar de estar na Cidade Externa, lugar de desordem,
sujeira e um mundo de foras-da-lei, conta com sua própria muralha e um conjunto
de casas e comércios bem organizado, tudo ao estilo de Calimshan, país de
origem dos refugiados que deixaram sua terra natal rumo a Baldur’s Gate por
conta de uma guerra.
Os dois entraram nos muros do bairro sem a objeção de nenhum dos seguranças que
patrulhavam as muralhas, sendo levados até um prédio com o letreiro “Empório de
Jóias Calim”, entrando pela porta dos fundos. Caminharam cautelosamente pelos
corredores do prédio seguindo uma única fonte de luz, que se mostrou ser uma
sala coberta por tapeçarias e almofadas. Um velho alto e esguio, dono de uma
barba longa e um grande turbante verde, estava sentado numa das almofadas, e
convidou os aventureiros a sentarem, e a se servirem de uma espécie de carne
que estava sendo defumada no centro do aposento. Num canto da sala, por detrás
de um biombo, uma figura feminina, de cabelos negros e curtos, revelou-se, desgrudando
do rosto os últimos fios de uma barba falsa. Ela se apresentou como Rilsa Rael,
uma pessoa frustrada com as injustiças de Baldur’s Gate, e pronta para roubar
qualquer cobrador de impostos corrupto para dar um futuro às pessoas que vivem
na Cidade Externa. Além disso, ela se revelou um membro da Guilda. “Os
patriarcas e os Fists culpam a Guilda por tudo de errado que existe, e depois
sentam suas bundas em cadeiras de ouro. Você viu a Cidade Externa! Não há lei
aqui, a não ser pela Guilda. Eu ajudo a Guilda a dar esperança a essas pessoas.”
Nenhum dos aventureiros assumiu um compromisso para com a Guilda, prometendo
pensar na proposta, e entrar em contato caso a resposta fosse afirmativa.
Reencontro
No dia seguinte o grupo se
encontrou numa estalagem chamada Blade and Stars, o motivo do nome é o escudo mágico
pendurado sobre sua porta de entrada, no qual brilha um céu de estrelas acima
de um sabre. Pediram a refeição e discutiram o que fazer. Azog, Curisco e
Malzafar não sabiam, mas os dois mais novos contratados dos Flaming Fists já
tinham uma missão: fechar dois cassinos da cidade; Low Lantern, um navio que
foi adaptado para ser um grande bordel; e o Oasis, uma casa noturna que fica na
Pequena Calimshan. Ravengard acreditava que ambos os locais tinham fortes
ligações com a Guilda. Azog e Curisco decidiram procurar por Imbralym Skoond, o
membro do parlamento que os contatou no dia anterior. Sir Graven da Mortalha e
o jovem Milner rumaram para as proximidades do Low Lantern, ficando no aguardo
da abertura do estabelecimento. Malzafar os seguiu, apesar da ignorância em
relação ao intuito da visita ao cassino. Quando a ponte foi posta entre o piso
do porto e a porta de entrada do navio bordel, o trio adentrou. O lugar tinha
diversos aposentos onde funcionavam mesas de carteado, dados, dardos, rinhas de
galo, mesas para bebedeiras e conversas às escuras, e quartos para diversão com
meretrizes. Milner se aliou com sua amoralidade e comprou fichas de aposta para
se divertir e ganhar algum dinheiro antes de fechar a casa de apostas. Sir
Graven, sentindo-se desconfortável com o ambiente, marchou para Pequena
Calimshan, para fechar o segundo alvo de sua missão, o Oasis. Malzafar,
continuando sem entender, deixou a companhia da dupla, só para secretamente
seguir Sir Graven até seu objetivo.
Nessa mesma tarde Azog e Curisco partiram em busca de Skoond, procurando-o na
reunião do parlamento, que acontecia no High Hall (centro administrativo de
Baldur’s Gate), em sua mansão e em algumas tavernas nos arredores, mas só o
encontraram no início da noite, quando ele chegou a sua casa carregando uma
pesada caixa de madeira. Depois de deixar a dupla esperando do lado de fora da
mansão enquanto se recompunha, levou-os a uma taverna chamada Three Old Kegs,
onde pagou um jantar luxuoso e rodadas de caras bebidas. Durante todo esse
tempo falou sobre como funcionva a política em Baldur’s Gate: o parlamento, os
patriarcas, os quatro duques, etc; sempre ressaltando como esse sistema de
poderes era importante para manter a paz e a ordem na cidade. Após o jantar
Imbralym levou Azog e Curisco para uma audiência com seu senhor: Duque Torlin
Silvershield.
Encontro com
Silvershield
Não encontrando o duque em sua residência, Skoon vai até a High House of
Wonders, a grande construção que servia de lar e local de trabalho para os
sacerdotes de Gond. Em sua sala particular se encontrava o líder dessa ordem
religiosa, Torlin Silvershield, trajando finas roupas com as cores de sua
divindade patrona (vermelho e amarelo), ele recebeu os aventureiros com muita
polidez, oferecendo um alto pagamento e status na Cidade Alta em troca dos seus
serviços. Sua postura contra a Guilda se mostrou bem firme. “Nossa cidade está
podre por dentro. Quem ousaria confrontar um herói venerado como Abdel se não
aqueles que juram lealdade às forças das trevas? Muitos vieram à nossa cidade
em busca de abrigo e refúgio, e nós Baldurianos abrimos nossas portas. Mas eles
trouxeram consigo uma semente pútrida – crenças profanas e deuses proibidos. Eu
pretendo extirpar essa imundície de nossa cidade, e recolocar Baldur’s Gate em
seu antigo lugar de respeito.
“As pessoas de que eu falo fazem parte de uma cabala de ladrões e
arruaceiros conhecidos como Guilda, como
se eles merecessem tal nome. Seus dedos cancerígenos chegam até as nossas mais
respeitáveis instituições. Têm comparsas na corte e até mesmo entre os Flaming
Fists. Para deceparmos esse braço podre da sociedade eu preciso saber quem eles
são. Preciso de alguém que rastreiem-nos até chegarmos aos seus líderes.”
A dupla aceitou os serviços, e logo receberam a primeira missão, que consistia
em prender três indivíduos suspeitos de se relacionarem com a Guilda: Yssra Brackrel,
uma meia-elfa que vivia em Wyrm’s Crossing; Laraelra Thundreth, meia-elfa dona
da estalagem Low Lantern (a mesma que Sir Graven e Milner foram incumbidos de
fechar); e o patriarca Norold Dlusker, dono de alguns comércios na cidade.
Fim da
sessão de jogo.
No próximo
reporte de campanha veremos os aventureiros nas execuções das primeiras missões
(ação!!), conheceremos mais personagens notáveis da cidade, veremos para onde
as intrigas e chantagens desses três influentes personagens, Rilsa, Ravengard e
Silvershield, levarão a cidade de Baldur’s Gate, e como os nossos heróis escolherão
tomar parte nos acontecimentos que estão por vir.
Até a próxima semana!
Todo domingo 15:00 horas na ARENA |
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