Criação de decks no ambiente competitivo
Olá pessoal.
Eu sou o Aloyr, um dos integrantes da equipe liga arena e
apresentador do canal “Os Taberneiros” (Aliás, não conhece meu canal? Não deixe
de acessar. De uma conferida nesse LINK Esta no começo, mas vão gostar).
Meu formato preferido é de longe o standard, vulgo T2, e o
que eu mais odeio é o modern, mas esse assunto ficará para futuros artigos.
Hoje vou falar um assunto que muito interessa a um tipo
específico de jogador, os famosos Deck-builders.
Deck-Builders engloba desde os jogadores que gostam de criar
seus decks para jogos casuais até jogadores que querem criar seus decks para
quebrar o meta-game. Meu artigo será direcionado para o cenário competitivo.
Antes de começar a falar meus pontos, deve se ter na cabeça
que criar um deck é uma coisa que exige muito do jogador e não podemos ser
inocentes. Não basta pensar numa jogada específica e montar um deck, é preciso
muito mais dedicação que isto. É preciso estudar os decks tier 1, 2, estudar a
sinergia, base de mana. É preciso ter de cor quais as principais cartas do
formato e quais as cartas deixadas de lado. Para falar a verdade, é preciso
realmente saber praticamente todas as cartas, ou pelo menos ter um mecanismo de
busca muito bom para atender suas necessidades.
Então, se você não é uma pessoa dedicada, com muita
paciência a testes e aberta a opiniões e discussões, você realmente deve passar
longe destas iniciativas.
Mas bem, vamos aos tópicos que considero mais importantes
para criação de seu deck.
1° Conhecer o formato e o meta-game
A primeira coisa que você deve saber é exatamente onde você
está se metendo. Em outras palavras, você precisa conhecer muito bem o formato
que joga e as cartas que estão jogando.
Por exemplo, na época em que eu escrevo este e-mail, existe
basicamente 4 decks que dominam o formato. BG Aggro, BG Delirium, Jeskai
Saheeli e 4 Colors Saheeli, sendo que os 2 últimos as vezes representam mais de
50% de alguns campeonatos e consistem na estratégia de ter um combo devastador
no main deck.
Okay, e no que ajuda saber disso, quando eu quero fazer meu
deck bacana UB metalwork colossus?
Bem amigo, ajuda simplesmente no fato que se você não tiver
cartas que lidem com um combo de Saheeli Rai + Felidar Guardian, que pode te
vencer no turno 4 ou com uma Walking Balista que consegue do nada 5 marcadores
adicionais na mesa, provavelmente você vai perder para todos esses decks tier 1
do formato.
Então quer dizer que não tenho chances de vencer se não usar
um desses decks? Obvio que este é um pensamento preguiçoso. É preciso entender
a mecânica destes decks para saber no que se baseiam e qual a melhor maneira de
lidar. Por exemplo, no ambiente atual, na cor vermelha, uma das principais
cartas do formato é uma antiga carta totalmente descartável antes. O bom e
velho choque (isso mesmo, o famigerado choque!!!).
Para quem não conhece o formato e visualiza um deck com
choque, já pensa em inúmeras cartas que poderiam ser melhores que eles e
descartaria instantaneamente do deck, e esta atitude levaria a derrota no
momento crucial, quando a carta substituta estivesse na mão no lugar do choque.
Isto porque o motivo desta carta ter virado uma tier 1 é que simplesmente ela
consegue parar o combo da Saheeli, por apenas 1 mana! E ainda serve de remoção
contra uma série de outras cartas, inclusive a própria balista (quando a mesma
entra com poucos marcadores). Então com isto concluímos que choque é das
melhores cartas vermelhas neste formato atualmente e sua presença em decks com
esta cor é simplesmente essencial.
Outra coisa importante para deck-builders competitivos é
acompanhar as variações do formato. O formato muda, e muda justamente por
pessoas como você, que constroem decks coerentes e que respondem ao formato.
Devemos sempre saber o que está acontecendo e alterar o deck de acordo com as
conjunturas atuais.
2° Ter um bom plano de finalização
Do que seu deck vence o jogo? Qual a ideia dele por trás
destas 75 cartas que você está inserindo no seu deck? Seu deck é bom no plano
principal? Seu plano é difícil de ser contido? Ele foi feito para vencer rápido
ou para carregar o jogo para além dos turnos iniciais?
Estas são algumas boas perguntas que você deve fazer.
As vezes vejo pessoas criando seus decks e tendo uma visão
muito inocente do seu deck. Colocam 15 maneiras de vencer o jogo. Colocam 8
bichos de curva 1 no deck que causam um
bom dano, depois colocam um bicho grotesco la para a curva 9 com potencial de
finalizar o jogo e ainda tentam colocar umas jogadas legais no meio, que pouco
tem haver com o bicho curva 9+ ou com os bichos curva 2-. Bem, legal ter nas
mãos o deck do Yugi, que tem 1 carta de cada contra tudo, mas você esquece
apenas uma coisa: Você não é o Yugi! Você não terá todas a carta certa no
momento certo sempre e principalmente, um deck que faça tudo não é bom em nada
especificamente.
Acreditar no seu plano inicial é uma boa maneira de criar um
deck. Primeiro você verifica se seu plano é coerente e viável. Por mais legal
que pareça vencer de Hedron Alignment, você deve entender que num formato onde
você pode perder no turno 4 e que não tenha boas cartas de compra ou mesmo
cartas com baixa sinergia (que permitiriam remover as próprias permanentes por
alguma vantagem) e portanto este plano é inviável.
O segundo ponto disto é saber exatamente quando você deve
vencer o jogo! Se seu deck inteiro foi feito para vencer nos 5 primeiros
turnos, então você tem que se preocupar em ter cartas que garantam isso, como
remoções pontuais e mesmo descartes selecionados da mão do oponente. Se seu
deck pretende vencer num combo ou mesmo controlando o jogo e levando para além
do sétimo turno, então remoções mais eficientes (dependendo até mesmo globais)
ou mesmo bastante compras de cartas para garantir a devida manutenção do jogo
são totalmente necessárias.
3° Base de mana
Esta deve ser uma das partes mais complicadas e vitais de se
montar um deck, e mesmo assim das mais ignoradas por builders.
Você já se perguntou o porquê os terrenos especiais do
magic, como Urzal Ventoso, Delta poluído, bueiros de vapor, nunca desvalorizam?
Aliás, muito pelo contrario não é?!
Simplesmente porque sem elas um deck não roda (exceto para
decks excepcionais, sem terrenos).
Então construir um deck é inteiramente ligado a sua base de
mana, de seus terrenos que utilizam e a quantidade do mesmo. Não vou colocar
regras aqui, porque basicamente essa parte demanda muita análise. É preciso
saber qual a cor base do seu deck, qual cor exige mais manas, qual cor é
necessária nas curvas iniciais e principalmente, se o formato tem a disposição
todos os terrenos que você precisa.
Se você joga com um deck de controle de mesa, que tem como
finalizador um encantamento de 9 manas, com toda a certeza você precisará de
colocar um terreno no campo todo turno e fatalmente deverá usar mais terrenos.
Em contrapartida, um deck que utilize de criaturas de curva até 3 e tenha como
plano matar até o turno 5, precisa de menos terrenos.
Além disso, temos que entender que existem uma boa gama de
terrenos que entram em jogo virado e eles simplesmente não te ajudarão
dependendo da sua estratégia de jogo. Imagine que você esta jogando com um deck
vermelho e branco de bichos rápidos, que sua estratégia seja vencer até o
quarto turno explodindo o cara de dano. Agora imagine que 60% dos seus terrenos
entrem em jogo virado. Agora pergunto... Você irá conseguir cumprir seu plano?
Obvio que não. Você não conseguirá colocar as criaturas nos turnos iniciais em
campo em pelo menos 60% das vezes. Isso significa que em 60% das vezes, pelo
menos, seus oponentes tiveram muito mais tempo de reação do que deveriam ter.
Sua estratégia tem que seguir a coerência da base de mana.
Se você não tem uma boa base de mana, então você não tem um deck. Por favor,
não insista.
4° Sinergia na escolha das cartas
Este é o ponto onde a mágica acontece. Quando chega neste ponto, é aonde o deck vai
nascer pela primeira vez, de fato.
Quando chegamos aqui, já temos em mente o formato e as
principais cartas, sabemos nosso plano de jogo e já validamos com a base de
mana. Então agora é necessário escolher as melhores cartas para nosso deck.
Bem, escolher as cartas é algo intimamente ligado ao seu
plano de jogo. Fora as cartas que respondem o formato, que são totalmente
necessárias no seu deck (ao menos que estejamos falando de decks não
interativos, que tentam ganhar sem se importar com a mesa do oponente), eu
tenho uma preferencia pessoal para as cartas.
Sempre escolho cartas que tenham a melhor sinergia e
coerência possível com minha estratégia e que consigam ser relevantes sozinhas,
para o caso de uma resposta. Claro que nem sempre isso é possível, mas quando
não é eu realmente questiono a eficiência do deck. Tenho por exemplo um deck
muito interessante: UR Dynavolt Tower. A
estratégia desse deck consiste em baixar a famigerada torre e fazer muitas
mágicas, para gerar muita energia e assim gerar condições de finalizar o
jogo. Parece bacana não é?!
Mas digo por experiência própria. Quando funciona assim, o deck
é absurdamente eficaz, mas ele não funciona assim sempre. Na verdade, ele
funciona poucas vezes dessa maneira. Com um plano de jogo baseado em muitas
mágicas de comprar e danos pontuais, quando você não consegue fazer a torre no
turno 3 (o que é muito provável, levando em conta que você tem 4 copias num deck
de 60 cartas), você simplesmente fica dependendo de seus danos pontuais e no
desespero para encontrar torre, e quando encontra, depende muito de ter mágicas
na mão para jogar. Fora isto, o deck tem a pretensão de levar o jogo para além
dos 9 turnos e não tem boas remoções globais, o que dificulta muito a
jogabilidade do mesmo. (inclusive acredito que a solução deste deck seja
adicionar uma terceira cor para lidar com esses problemas). A torre não faz
nada sozinha e se respondida te deixa sem muitos planos.
Resumindo, não é um plano tão bom, ou pelo menos, não tinha
um bom suporte.
Um bom exemplo de deck sinérgico são os decks de humanos
recentes no T2. Os decks abusam de criaturas do tipo humano, com alto poder de
ataque e usam cartas como o recente mímico (de aether revolt) e tenente deThalia, que interagem com as outras, aumentando o poder das mesmas. Dentro
dessa estratégia ele é bem coerente e faz bem o que se dispõe a fazer.
Pense sempre na sinergia e na relevância da carta no
meta-game quando for escolher suas cartas.
5° Sideboard
Eu considero esta fase crucial para os que jogam no
competitivo e sinceramente é altamente negligenciado. Creio que não há chances
de você ir para frente neste jogo se não se importar com o side.
Não há muito segredo no side! Ele deverá ter 15 cartas, e estas
15 cartas deverão ser altamente impactantes contra pelo menos os principais
decks do formato e contra os decks que te causarão grandes dores de cabeça.
Um ponto que deve sempre ser considerado é quantas cartas
você pode remover do seu deck contra um deck específico no formato. Um erro
muito comum é o jogador colocar em seu side muitas cartas contra determinada
partida e descobrir só na hora que é impossível puxar todas elas. E quando puxa
todas, descobre que as cartas que retirou eram essenciais e que o deck não roda
muito bem sem elas.
Tenha sempre em mente quantas cartas você pode remover, para
saber quantas cartas devem ir contra partidas específicas.
Aceite também que seu deck não será bom contra todos os
tipos de deck do formato. Então não gaste espaço do seu side contra este tipo
de deck. Faça as contas e veja para o que você pode perder sem que isto
influencie muito seu resultado no final do torneio.
6° Testes e reconstrução
Esta é a parte que muitos deck-buiders desistem de criarem
novos decks e optam por estratégias já existentes, que inclusive deve ser
sempre uma opção considerada...
Muitas vezes você não terá sucesso com suas construções
simplesmente por não serem melhores que os decks no formato, ou não serem
abrangentes.
Enfim, todo deck deve ser exaustivamente testado e os testes
devem ser feitos contra justamente os principais decks do formato.
Nesta fase muitas cartas irão mudar no deck e até mesmo a
estratégia de jogo. O famoso deck de eras atrás, o psicatogue, nasceu
justamente de testes e mais testes (e não na fase de concepção da ideia). O
bicho sequer era considerado nas listas, e era usado como uma prótese de shadowmage infiltrator.
E aí a importância de se conhecer as cartas do formato... Em
um caso desses nasce um deck campeão, com uma jogada inovadora, mas é preciso
treinar e conhecer.
Teste até a exaustão. Esgotem ao máximo as possibilidades.
Veja como ele se comporta com mãos iniciais de poucos terrenos, muitos
terrenos, muitas mágicas, etc. Repita estes testes contra outros decks. Vejam
quais mãos te dão maior vantagem e quais são impossíveis. Faça anotações, peça
opiniões. Jogue com mãos abertas para discutir com amigos.
Separe cartas possíveis para troca.
...Jogue com e sem
side...
Enfim, teste, e não tenha preguiça de trocar cartas ou mesmo
estratégias e esteja sempre aberto a análises e opiniões (com seu devido
filtro).
Após os testes e alterações, seu deck estará pronto para se
aventurar no mundo competitivo.
Conclusão
Pessoal, e é isso o que eu tenho a escrever. Coloquei os
tópicos muito por cima, mas a verdade é que cada um desses dava para escrever
um longo e extenso artigo separado, com muitos detalhes.
Espero que, principalmente os jogadores mais entusiasmados
tenham entendido, é que construir bons decks não é uma tarefa nem de perto
fácil. É preciso dedicação, experiência e conhecimento.
Não há problemas em jogar com decks já pensados por outros
jogadores. Aliás, pense que os jogadores que criaram não fizeram suas escolhas
à toa. Eles simplesmente passaram por tudo isso que escrevi, com o adicional
que muitas vezes são profissionais que testam por semanas a finco suas
criações, então eles realmente sabem o que estavam fazendo.
No mais, eu recomendo que todo jogador que queira ir para o
ambiente competitivo/profissional que aprenda a criar decks também, que passe
por essa experiência. Construir decks da outra visão e facilita reconhecer
mecânicas, jogadas e prepara melhor o mesmo para as futuras competições.
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