terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Burn Deck Wins! Queime (os oponentes) depois de ler!


Burn Deck Wins! Queime (os oponentes) depois de ler!
 
Por: Tio Hélio




Nariz de cera + História da minha vida



Jogo má-o-menos de burn/sligh desde 1997. Sou velho. Eu via preço de cartas na InQuest, passava wasteland por um real, abri City of Brass no deck de quinta edição. Sou melhor do que alguém por isso? Certamente não. Mas o tempo traz conforto espiritual. Acreditar que você se divertia mais do que as pessoas se divertem hoje é algo prazeroso, mesmo que a prudência, o discernimento e o mínimo de humildade digam na sua cabeça que talvez isso não seja verdade. Mas a gente achava Esfera de Raios  boa e era feliz assim.

Eu sempre mantive o Magic dentro dos padrões budget porque eu jogo casualmente, mais por diversão mesmo, não por competição (apesar disso fazer sentido na minha cabeça, analisando-se friamente não é uma boa ideia, pois isso é basicamente jogar como todo mundo joga sem ter nenhum retorno por isso). No início, jogava de burn porque era “um deck tipo um barato”.

Tenho o deck montado – pelo menos tortamente – desde 1998. Algumas cartas entraram (Goblin Guide), outras favoritas saíram (Ball Lightning, Jackal Pup, Tática de Guerrilha...). As pessoas jogavam de White Winnie, de Mono-black, de Mono-Blue... Com o tempo esses arquétipos foram sumindo, indo e voltando, mas o Burn sempre esteve presente como uma não tão silenciosa testemunha da história. Mesmo quase nunca vencendo, o deck estava sempre lutando. Cade vocês, Leões da Savana?

Esse arquétipo, algumas vezes considerado inferior, é bem especial para mim. Ele tem muito a ver com minha vida de Magic. Mesmo com muita gente torcendo o nariz, o deck sempre aparecia, sendo considerado por alguns pouco competitivo. Até que em 2012, o Burn ganhou 2 SCG-Open seguidos. Sempre li muita coisa sobre o deck, por isso resolvi colocar nesse texto um amontoado de links e informações colhidas com o passar dos anos.

                                   
Coisas primeiras


A razão desse texto estar sendo escrito é porque tem gente que acha que:

- Burn se resume a jogar mágicas no oponente
- Burn não ganha de ninguém
- Burn é um deck que usa fetchland para filtrar, servir de combustível pro lavamancer, etc.
- Browbeat pode ser considerada uma carta

Além disso, Austin Yost ganhou o SCG open em 22/01/2012 com essa lista (report + link: http://bit.ly/xu7IfE ).

Yost é um cara muito gente boa, que sempre responde o que a gente pergunta pra ele no  fórum Salvation. O report dele explica bem os matches e a função de cada carta. Pra quem não tá a fim de ler o report inteiro, resumidamente:

- Ele não é um cara que joga com burn porque é vermelho, “budget” e “muito louco” (eu jogo com o deck por esses motivos). Entre “n” motivos, ele gosta do deck por ser veloz e consistente.

- Ele comprou o deck em Las Vegas com dinheiro emprestado, jogou 3 opens (top 8, 5-4 e top 1) e 1 Invitational (top 32). Bons resultados.

- Essa versão do deck foi desenvolvida especificamente para o metagame do SCG Open (sim, precisa ajustar o deck ao metagame).

- Em torneios ele fez 11-1 (tecnicamente, 10-1-1) contra RUG e achou GW Maverick um matchup favorável.

Além do artigo ter o report completo e explicação das escolhas de cartas do deck e sideboard, tem links para os vídeos das partidas transmitidas ao vivo. Lembrem-se de olhar isso lá.


Deck relativamente barato e viável


Para os padrões do magic, Legacy Burn é um deck barato. Custa mais ou menos um par de Sorin (por enquanto) e menos do que 2x Savannah / 1,5x Tundra, de acordo com o tcgplayer.com:


(Obs. nunca comprei nada lá, só usei o site para linkar o deck porque ele calcula o preço da coisa toda fazendo uma média dos preços de vários sites, mas sem incluir o frete dos “vários sites”, se alguém for comprar o deck, é melhor comprar num lugar só, para economizar frete).

Essa não é a versão que eu deixo montada. Tenho certa aversão a Figure of Destiny, mas ela é, segundo Yost, uma carta importantíssima contra RUG, por precisar ser respondida sob pena de morte.


Aleatoriedades

Essa seção aborda algumas das discussões mais comuns sobre o deck, respondendo aquelas perguntas que começam com “Por que você não...”.

Burn x Sligh: “Mas esse deck não é burn é sligh...” Poderia perder-se um tempo discutindo essas coisas, mas não acho muito produtivo. Tecnicamente falando, esse é um Burn modificado, incorporando elementos de Sligh, principalmente para ter um match melhor contra azul (ou seja, um match melhor no legacy). Azul não gosta de Hellspark Elemental e Figure of Destiny, por isso elas entraram pro burn. Leyline of Sanctity também deu uma inviabilizada no “Burn Clássico”. Não gosto de chamar esse deck de sligh, mas é ok dizer que ele é híbrido. Também é OK chamar o que você quiser do que você quiser, dentro dos limites da lei, país livre e coisa e tal...

Grim Lavamancer: Sim ele está fora. Ele entra no turno 1 e faz nada. Para ele começar a fazer alguma coisa, ele usa a mana do bolt que está na sua mão. Ele pode ser anulado. Figure of Destiny tem todos esses defeitos, mas poder virar um bicho 2/2 ou 4/4 faz com que ela tenha uma presença melhor na mesa, se necessário (contra decks não-azuis, ela acaba saindo fora), por isso ela é um dedinho melhor. Além disso, para jogar com lavamancer agressivamente é recomendável usar fetchlands, que comem sua vida atrapalhando alguns matches contra aggro e tornam a jogabilidade do deck insuportável. Estourar uma fetch quase todo turno de quase todo jogo mecanicamente (só pra caçar montanhas) começa a encher o saco depois de umas 5 partidas...

Qual é o ponto forto do lavamancer? Patrick Sullivan gosta dele - ou melhor - A lista do Patrick Sullivan usa lavamancer + fetchland e não pode ser simplesmente ignorada. Para quem se interessar por ela, ei-la: http://magic.tcgplayer.com/db/deck.asp?deck_id=807833 .

Barbarian Ring: No deck do Yost, Barbarian Ring é um choque que não pode ser anulado, não é uma Montanha. Significa que, se você sentir cheiro de Wasteland, fique com ele na mão e desça só na hora de usar. Só em último caso ele é uma montanha (ex.: mão inicial com uma montanha e um ring sem vir outra montanha no draw). Desse jeito, e só desse jeito, ele é legal.

O deck joga ok com 17 terrenos, tendo em vista que isso implica em ter acesso a em média 2,5 lands no turno 2 – ou seja – Barbarian Ring não precisa contar como terreno que adiciona mana para o deck ser funcional. (Off-topic: eu não sei matemática, copiei essa estatística daqui: http://bit.ly/yMYrU6 ; planilha postada em: http://bit.ly/y4fvOs – link útil...)

Chain Lightning (CL): Sem CL, o deck fica muito mais barato. O problema é que chega a ficar muito mais lento. Se você colocar um Choque no lugar de CL, pode ser que você deixe o oponente com 1 de vida e perca (quando a lista está falha, isso acontece com frequência). Se você colocar Incinerar no lugar de CL, pode ser que você fique sem mana para dar o último bolt.

Se você não puder usar CL, meu conselho é: testa tudo (Manamorphose, Gitaxyan Probe, Choque, Incinerar, etc.) e veja o que você acha melhor, mas saiba que haverá sacrifício de velocidade e/ou consistência. Um dos motivos para as pessoas odiarem burn à primeira vista é testarem a coisa sem CL.

Flame Rift: Joga legal, principalmente se for a única coisa do seu deck que causa dano em você (além do Barbarian Ring como bolt). Quando é misturada com fetchland, sulfuric vortex, etc. é que começa a dar pau. Ele não dá alvo em jogador, ou seja, passa leyline.

Fada Macabra: Aquela carta comum que você descarta para remover do jogo duas cartas do cemitério do jogador alvo. Só pode ser anulada por Stifle, por ser uma habilidade ativada. Gostei de ver o Yost usando 4, porque é “O” jeito de ganhar de Reanimator (os artefatos felizes levam FoW). Não é aquela maravilha contra dredge, mas o match contra reanimator é muito mais cruel. 4.

Archive Trap: Side contra storm, bom para não morrer no 1º- ou 2º turno. Depois dá pra tentar brincar com Pilar Pirostático.
                        
 
Browbeat: Naõ. Basicamente, você deixa o oponente escolher e, claro, ele vai escolher o que for melhor para ele. Se você comprar três cartas (normalmente não tem o outro se), provavelmente você não vai causar nada de dano ao oponente no turno 3 (a ideia era causar, sei lá, entre 6 e 10), estendendo o jogo por mais um turno para, possivelmente, usar as cartas que você comprou – ou seja – sacrificando a velocidade, que é um dos únicos pontos fortes do deck.

Se você causar dano com Browbeat em alguém jogando de burn, provavelmente tem alguma coisa muito errada (com o mundo, com o deck, com seu oponente, intersecção de universos paralelos, etc.). Não.



Splash: Os builds com fetchlands + lavamancer costumam se dar melhor com o splash, por não exigirem muitas alterações – uma old dual ali, umas coisinhas a menos aqui. E a Wasteland do oponente, praticamente uma carta morta contra o Burn, começa a trabalhar...

UR – é estranho fazer um splash só pra usar Brainstorm. Se a ideia for colocar algo mais do azul, talvez seja melhor partir pro UR/RUG de uma vez, que tem um funcionamento diferente do Burn.

BR – É um splash comum, para usar Bumb in the Night. Abre opções de sideboard.

RW, RG – Era usado principalmente para sideboard contra encantamentos (vulgo Leyline of Sanctity). Com o surgimento de Chaos Warp, talvez seja demais fazer um splash só pra isso (do ponto de vista custo em dinheiro x benefício –  “famoso budget” - é seguro dizer que não compensa). Além disso, tendo sua meia dúzia de criaturas, o match contra decks usando Leyline não muda tanto – talvez ele fique um bocadinho menos infernal do que seria só com 4 Guides. A sugestão é treinar com o deck contra alguém que comece o jogo sempre com seis na mão e leyline na mesa, para pegar o esquema de jogar com criaturas e Flame Rift.


Onde ler sobre o arquétipo (ok, fontes)


Existe uma penca de textos sobre burn na internet. Eu destaco os seguintes.

- O report do Yost (link lá em cima) – porque ele ganhou um evento com o deck e fala de estratégias contra decks comuns nos metagames de legacy.

- O primeiro post no tópico sobre Burn no fórum da salvation – está meio desatualizado (deve sair um novo tópico dia desses), mas tem a resposta para um monte de perguntas felizes, como porque não jogar com Wasteland, Browbeat, Ball Lightning, etc (estão em tags de spoiler). Como o material está sendo revisto, a avaliação de algumas cartas não é mais tão correta (ex. gritante: Barbarian Ring e Figure of Destiny), mesmo assim, é uma boa fonte - http://bit.ly/yCnSro

- Artigo recente sobre Burn, de um dos caras que está escrevendo a nova primer (ou pelo menos estava) do deck na salvation - http://bit.ly/qRBcMo

Le edit: este texto estava pronto praticamente pronto depois que o Austin Yost gahou o SCG Open Legacy em 22/01/12. Em 05/02/12, no Open seguinte, deu Burn na cabeça de novo! Como a decklist é mais ou menos a mesma, apenas acrescentarei o link do deck do James Allen: http://bit.ly/whibOi (4 Figure of Destiny é muito, segundo o próprio Allen disse na entrevista.)


Conclusão


A intenção maior desse post foi:

- falar sobre meu deck favorito após ele ter ficado em 1º num torneio de grande expressão – e divulgar este fato;
- tentar responder alguns questionamentos que envolvem o deck;
- trazer um monte de links que falam sobre/abordam/até explicam o deck em comento;
- mostrar que o deck tem sua consistência e sua lógica, sendo um deck possível num torneio Legacy;
- mostrar que é possível participar de eventos desse formato (encontrar amigos, influenciar pessoas, aquela coisa toda...) sem ter que gastar mais de um conto de real num deck e, mesmo assim, ter alguma esperança fundada de resultado.

Uma coisa vos digo – os outros decks de legacy vêm e vão, mas sempre vai existir alguém jogando de Burn. Talvez por saudosismo; talvez pela diversão; talvez para ter jogos rápidos, para  poder fazer trocas nos intervalos entre eles; talvez simplesmente por não ter grana para montar os outros decks e talvez (lembrem-se desse último “talvez” para evitar supresas desagradáveis) para jogar com um deck competitivo e interessante que pode se dar bem em alguns metagames, se o jogador for bom.

Parafraseando Ivete Sangalo:

“Comigo é na base do Guide
Comigo é na base do Bolt
Comigo não tem disse me disse,
Não tem chove não molha
Esse é o jeito que eu sou.”

Bom carnaval para todo mundo!



6 comentários:

  1. Eu vim parar aqui com um link das tops de dark as... e to admirado até agora. Parabéns! Artigo muito bem escrito, bem citado, com referencias. Vc trabalha com pesquisa em alguma universidade?

    Eu tenho um burn ha quase 15 anos... no inicio tinha 5 cores, hehe, depois eu descobri q jogava melhor de mono-red, dã! A única coisa q falta são os 4 chain light, mas como voltaram naquela edição fire&lightn, acredito q seja mais facil de encontrar. de modo geral, o pessoal ta passando a 25 cada, ou 100 o set.

    essa leyline é um pé no saco hein?

    forte abraço!

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  2. É isso ai cara.
    Parabéns pelo artigo e pela inteligência de admirar o nosso amado RED DECK.
    Os jogadores de Magic em geral (principalmente os assim chamados "pró-player") tem um grande preconceito contra o arquétipo do deck, consideram-no inferior aos decks que rodam rodam rodam e depois de muita encheção de saco acabam ganhando por tédio.
    Eu sempre fui e sempre serei um dos maiores entusiastas do bom e velho mana-bicho mana-dano, direto na vida.
    Burn, baby, burn.

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  3. É curioso porque o artigo que você resumiu recebeu a seguinte resposta do especialista em legacy do CFB:
    http://www.channelfireball.com/articles/recurring-nightmares-the-land-continues-to-burn/

    Em que ele diz, mais ou menos:
    1- Burn é ruim e sempre será
    2- Burn só ganha se esquecerem que ele existe (subestimarem)
    3- Burn não ganhará mais, porque vai ser levado a sério.

    É legal ir atrás de respondê-lo, agora.

    Até,
    Alexandre

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  4. Muito bom o artigo, parabéns!
    Comecei a participar de torneios usando o Burn em Porto Alegre, num Field repleto de bons jogadores, e da pra notar o certo "temor" por parte de muitos jogadores,por ter de enfrentar um deck tão rápido quanto o Burn! Obviamente, dependerá muito do PlaySkill de cada jogador, mas ai não é apenas o Burn que se encaixa nesse quesito.

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  5. Ai sim meu amigo, quase enchi os olhos dágua! rsrs

    Joguei Magic de 1995 até 2003 mais ou menos e só nos dois primeiros anos ainda não jogava de Burn! Depois que montei o primeiro, bem ruinzinho por sinal, já senti o fogo correndo nas veias. Ele SEMPRE será o deck mais divertido de se jogar!

    Há um mês atrás voltei a jogar só pela saudade que sentia do meninão! Tenho certeza que o burn incomoda desde sempre, assim como o pré-histórico "deck de counter", nosso odiado porém respeitado arqui-rival!

    Só tenho a dizer que o burn ainda vai dar o que falar. Tenho alguns combos em mente e converso com gente que tem outros... novidades virão!

    Abraços, parabéns e OBRIGADO pelo post! *-*

    ps.: Que carta FDP essa Leyline ¬¬'

    Leo

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